As Comunidades SETAA aplaudem a entrada em operação da Usina Solar Fotovoltaica Flutuante (UFVf) Vereda Sol e Lares, em Minas Gerais, Brasil e parabenizam o Movimento dos Atingidos por Barragens do Brasil (MAB) por sua conquista histórica e contribuição para a construção de um projeto energético popular e para a Transição Energética Justa no Brasil e na América Latina.
A vitória coincide simbolicamente com o Dia Internacional de Ação contra Barragens (14 de março), quando comunidades de todo o mundo se mobilizam para exigir seus direitos e defender seus territórios. No alvorecer desta celebração, o projeto Sol e Lares viu a luz do dia e começou a injetar energia na rede da concessionária local.
O projeto Veredas Sol & Lares é uma iniciativa de aprendizagem de base, onde as comunidades atingidas pelas barragens participaram do projeto, planejamento e montagem do sistema. Foi um processo no qual todos os atores se reconheceram e respeitaram o fato de que ninguém sabia mais do que ninguém; cada pessoa tinha conhecimentos diferentes para contribuir para a construção do projeto coletivo.

O projeto se materializou com o estudo do marco regulatório brasileiro referente ao tema, da proposição de uma metodologia de participação social em P&D e de proposições para o envolvimento comunitário, o que tambén deu lugar para pesquisas da academia. O projecto criou uma ilha flutuante de 3.070 módulos solares fotovoltaicos com capacidade de geração de 1,2 megawatts. Os módulos foram instalados sobre o lago da PCH Santa Marta, em Grão Mogol/MG. O projeto fornecerá energia elétrica para 1.250 unidades consumidoras, sendo que grande parte destas, são famílias de baixa renda que verão os benefícios refletidos em sua conta de luz, através do sistema de compensação. Parte da electriciade produzida será comercializada de maneira a garantir a viabilidade econômica da UFVf.

Na fase final, foi constituída a Associação dos Prossumidores de Geração Distribuída de Minas Gerais – Vereda Sol & Lares, figura jurídica que permitiu que os atingidos fizessem parte da gestão da Usina Veredas Sol e Lares que será gerida por eles e pela AEDAS, através da formação de um Consórcio de Geração Distribuída. Entretanto, mais do que a figura do prosumidor de energia, consideramos que esta grande experiência constitui um processo de reparação para os atingidos por barragens no vale do Jequitinhonha e região do Rio Pardo, que viram seu território e seus modos de vida inundados décadas atrás.No total, foram 5.936 pessoas que participaram de pelo menos 426 atividades de campo desenvolvidas pelo projeto, incluindo mais de 2.700 pessoas em 154 reuniões somente em 2022. Foi um processo participativo que envolveu vários setores sociais dos 21 municípios da área de influência do projeto. A metodologia permitiu que mais de 55% dos participantes fossem mulheres, e foram utilizadas metodologias populares do MAB, como as Arpilleras, desta vez usada para capturar seus sonhos e propostas, e não para fazer lembranças, como tem sido usada até então.

Este projeto está posicionado como um quadro de referência para o desenvolvimento da energia comunitária no Brasil, que transcende a categoria dos prossumidores de energia, permitindo avançar na compreensão de categorias como: atingidos por barragens, povos e comunidades tradicionais, pesquisadores populares e envolvimento regional em uma visão de bacia hidrográficaOs jovens também foram incluídos como protagonistas no desenvolvimento do planejamento e da pesquisa social. Eles adquiriram habilidades e se construíram como pesquisadores populares e discutiram temas com a população sobre a questão energética e o desenvolvimento regional, através de um processo de capacitação que incluiu quatro módulos entre 2018 e 2020, divididos entre tempo escola e tempo comunidade.

Este projeto está posicionado como um quadro de referência para o desenvolvimento da energia comunitária no Brasil, que transcende a categoria dos prossumidores de energia, permitindo avançar na compreensão de categorias como: atingidos por barragens, povos e comunidades tradicionais, pesquisadores populares e envolvimento regional em uma visão de bacia hidrográfica
A perseverança do MAB, a perseverança na luta e a clareza de avançar na reconstrução do Brasil foram as bases para a conclusão bem-sucedida deste projeto hoje, onde a vontade política se materializa em uma ação concreta que pretende apostar na transformação do modelo energético vigente.
¡Agua e Energía, não são mercadorias!
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